quinta-feira, julho 21, 2005

Caminho da humildade, Caminho da liberdade...

Nosso Senhor disse: "Muitos profetas e reis quiseram ver o que vedes e não o viram". Por profetas, há que entender os grandes espíritos subtis e bem pensantes, que se agarram à subtileza da sua razão natural e dela se orgulham. Esses olhos não são felizes. Por reis, há que entender os homens com veia de mestres, com energia forte e potente, que são senhores de si mesmos, das suas palavras, das suas obras, da sua língua e que podem fazer tudo o que querem em matéria de jejuns, de vigílias, de orações. E dão-lhe grande importância, como se isso fosse algo de extraordinário, desprezando os outros. Os seus olhos também não vêem o que os possa fazer felizes.Todos esses queriam ver e não viram. Queriam ver e ficaram presos à sua própria vontade... A vontade própria tapa os olhos interiores tal como uma membrana ou uma película tapa os olhos exteriores, impedindo-os de ver... Todo o tempo que permaneças na tua vontade própria, ficarás privado da alegria de ver com os olhos interiores. Porque toda a verdadeira felicidade vem do verdadeiro abandono, do desprendimento da vontade própria. No fundo, tudo isso nasce da humildade... Quanto mais se é pequeno e humilde, menos vontade própria se tem. Quando tudo está pacificado, a alma vê a sua própria essência e todas as suas faculdade; ela reconhece-se como a imagem real d'Aquele de quem saíu. Os olhos que mergulham até esse nível podem verdadeiramente ser chamados bem-aventurados, por causa do que vêem. Descobre-se então a maravilha das maravilhas, o que há de mais puro, de mais seguro - aquilo que menos nos pode ser tirado...
Jean Tauler (cerca 1300-1361), dominicano em Estrasburgo Sermão 53