sexta-feira, junho 02, 2006

Do Amor com que nos Amou

O diálogo entre o Pai e o Filho, extraído do evangelho de S. João é, para além de tudo, uma fantástica catequese sobre o Amor derramado em nós pelo Amor recíproco (o Espírito) de Deus Pai e Deus Filho. É um Amor que permanece, se estende a cada um de nós e nos eleva à unidade de Deus (Pai, Filho e Espírito Santo)


do Evangelho segundo S. João 17, 20-26

" Não rogo só por eles, mas também por aqueles que hão-de crer em mim, por meio da sua palavra, para que todos sejam um só, como Tu, Pai, estás em mim e Eu em ti; para que assim eles estejam em Nós e o mundo creia que Tu me enviaste. Eu dei-lhes a glória que Tu me deste, de modo que sejam um, como Nós somos Um. Eu neles e Tu em mim, para que eles cheguem à perfeição da unidade e assim o mundo reconheça que Tu me enviaste e que os amaste a eles como a mim. Pai, quero que onde Eu estiver estejam também comigo aqueles que Tu me confiaste, para que contemplem a minha glória, a glória que me deste, por me teres amado antes da criação do mundo. Pai justo, o mundo não te conheceu, mas Eu conheci-te e estes reconheceram que Tu me enviaste. Eu dei-lhes a conhecer quem Tu és e continuarei a dar-te a conhecer, a fim de que o amor que me tiveste esteja neles e Eu esteja neles também."

segunda-feira, maio 22, 2006

Move-me

O que me move num poema de S. Francisco Xavier, escrito em Goa.


A Jesu Crucificado

No me mueve, mi Dios, para quererte
El cielo que me tienes prometido
Ni me mueve el inferno tan temido
Para dejar por eso de ofenderte

Tu me mueves, Senor, mueve me el verte
Clavado en esa cruz y escarnecido
Mueveme el ver tu cuerpo tan herido.
Mueveme tus afrontas y tu muerte

Mueveme en fin tu amor y en tal manera
Que aunque no hubiera Cielo yo te amara
Aunque no hubiera inferno te temiera

segunda-feira, maio 15, 2006

Do Amor (do Pai e do Filho)

Do Amor constante e recíproco do Pai e do Filho "resulta" o Espírito Santo.
O Filho na sua volta para o Pai (de onde procede) deixa-nos, ou melhor trespassa-nos nessa entrega, nessa relação de Amor e Intimidade.
Na homília de Domingo o pároco ilucidou-nos. No cristianismo não se trata de engrandecimento de egos. Num tempo de ego-cêntricos, a religiosidade também não está a salvo. Uma das armadilhas na caminhada é pensar que se pode ser santo sozinho, ou pior, por sua conta. O golpe foi certeiro. A nós cabe-nos participar nesta relação de amor indo ao encontro do outro, dando testemunho daquele que nos amou.
Amar é sair de si, ir ao encontro para se poder "Ser" verdadeiramente.
Foi assim que Ele fez connosco. Saiu de Si, deu-se-nos na Cruz, e deixou-nos o Espírito que nos une ao Pai. Queremos melhor?


A respeito do Espírito Santo diz-nos o nosso Papa Bento XVI:

“Ao invés das palavras "Pai" e "Filho", o nome do "Espírito Santo", a terceira pessoa divina, não é a expressão de uma especificidade; pelo contrário, ele designa o que é comum a Deus. Ora é precisamente aí que aparece o que é "próprio" da terceira pessoa: é "o que existe em comum", a unidade do Pai e do Filho, a Unidade em pessoa. O Pai e o Filho são um na medida em que vão para além de si mesmos; são um nesta terceira pessoa, na fecundidade do dom. Estas afirmações nunca poderão ser mais do que meras aproximações; só pelos seus efeitos podemos reconhecer o Espírito. Por consequência, a Escritura nunca descreve o Espírito Santo em si; fala apenas da forma como ele vem até ao homem e como se diferencia dos outros espíritos...
Judas Tadeu pergunta: "Senhor, como é possível que te queiras manifestar a nós e não ao mundo?" A resposta de Jesus parece ignorar a pergunta: "Se alguém me amar, guardará a minha palavra e nós viremos a ele e faremos nele a nossa morada". Na realidade, essa é a resposta exacta à pergunta do discípulo e à nossa própria pergunta sobre o Espírito. Não se pode expor o Espírito de Deus como se fosse uma mercadoria. Só o pode ver aquele que o tem em si. Ver e vir, ver e ficar, estão juntos e são indissociáveis. O Espírito Santo permanece na palavra de Jesus e essa palavra não se obtém com discursos, mas com a constância, com a vida.


Cardeal Joseph Ratzinger [Papa Bento XVI] in “ O Deus de Jesus Cristo”

quarta-feira, maio 10, 2006

Intimidade e Liberdade

Quando li esta passagem do Evangelho de S. João, o que me impressionou mais foi a dimensão profunda da intimidade de Jesus com o Pai. De intimidade e de transparência. O Filho não oculta o Pai, antes O revela. mas essa intimidade não é exclusivista e fechada, à maneira da nossa noção de "intimidade", pelo contrário ela abre-se para o mundo, para partilharmos dela.
Para entrar nesta intimidade com o Pai e o Filho, foi-nos dada a Liberdade, de tal modo que, só por nossa livre vontade é que podemos aceder à vida eterna.
Ora isto é bem diferente da visão (distorcida) de um Deus opressor e dominador.
O seu domínio funda-se no Amor e na Liberdade.
Maravilhoso, não?


Do Evangelho segundo S. João 12,44-50.

Jesus levantou a voz e disse: «Quem crê em mim não é em mim que crê, mas sim naquele que me enviou; e quem me vê a mim vê aquele que me enviou. Eu vim ao mundo como luz, para que todo o que crê em mim não fique nas trevas. Se alguém ouve as minhas palavras e não as cumpre, não sou Eu que o julgo, pois não vim para condenar o mundo, mas sim para o salvar. Quem me rejeita e não aceita as minhas palavras tem quem o julgue: a palavra que Eu anunciei, essa é que o há-de julgar no último dia; porque Eu não falei por mim mesmo, mas o Pai, que me enviou, é que me encarregou do que devo dizer e anunciar. E Eu bem sei que este seu mandato traz consigo a vida eterna; por isso, as coisas que Eu anuncio, anuncio-as tal como o Pai as disse a mim.»

terça-feira, maio 09, 2006

Do Silêncio II

Muitos de nós quando se fala da Igreja pela positiva, imediatamente nos viramos, quase sempre, para o exemplo de Madre Teresa de Calcutá. Ora porque gostamos do seu exemplo de humanidade e humildade, ora porque nos aparece sempre como uma "personagem" cheia de vida e de acção, sempre em grande bulício, muito ao estilo de vida dos dias de hoje, como a demonstração acabada de alguém que não era "beata" e de andar sempre em rezinhas, bem antes pelo contrário. É bem verdade que a sua obra dá conta da sua vida, da forma como doou a sua existência aos mais pobres. Mas enganamo-nos muito, se acharmos que a sua força vinha de si mesma ou das suas ambições pessoais. Vinha antes, de uma fé inabalável no Amor de Deus.
E essa fé era alimentada no silêncio e na Oração.


" Acharás certamente que é difícil rezar se não souberes como o fazer.
Cada um de nós deve ajudar-se a rezar: em primeiro lugar, recorrendo ao silêncio, porque não podemos pôr-nos em presença de Deus se não praticarmos o silêncio, tanto interior como exterior.
Fazer silêncio dentro de nós mesmos não é fácil, mas é um esforço indispensável. Só no silêncio encontraremos um novo poder e uma verdadeira unidade.
O poder de Deus tornar-se-á nosso, a fim de realizarmos todas as coisas como devem ser realizadas; o mesmo no que respeita à unidade dos nossos pensamentos com os seus pensamentos, das nossas orações com as suas orações, das nossas acções com as suas acções, da nossa vida com a sua vida.
A unidade é o fruto da oração, da humildade, do amor.
É no silêncio do coração que Deus fala; se te colocares diante de Deus no silêncio e na oração, Deus falar-te-á.
E saberás então que não és nada.
Só quando conheceres o teu nada, o teu vazio, é que Deus pode encher-te d’Ele mesmo.
As almas dos grandes orantes são almas de grande silêncio.
O silêncio faz-nos ver cada coisa com outros olhos.
Precisamos do silêncio para tocar as almas dos outros.
O essencial não é o que dizemos, mas o que Deus diz - o que Ele nos diz, o que diz através de nós.
Nesse silêncio, Ele nos escutará, falará à nossa alma e escutaremos a sua voz."

Beata Teresa de Calcutá (1910-1997), fundadora da Irmãs Missionárias da Caridade in “Não há maior Amor”

quinta-feira, abril 27, 2006

Do silêncio e da palavra.

Hoje recebi estas palavras. Tenho pena que muitos dos meus amigos tenham tantos preconceitos com o cristianismo e em particular contra a Igreja. Acham que já sabem tudo e que nada podem acrescentar ao (nada) que sabem. A onda das espiritualidades alternativas e dos yogis e sucedâneos parece ir crescendo a par dos materialismos e racionalismos sem transcendência. Falar-lhes de Ti Senhor, parece-me uma tarefa penosa e não poucas vezes sinto que nada mais faço do que acrescentar ruído ao ruído que já têm nos seus corações e ouvidos...

E no meio de tanto ruído, sabe bem este elogio do silêncio. (...)

De Jean Tauler:

“Tal como Maria, todo o servo de Deus deve, frequentemente, encontrar o silêncio e a calma em si mesmo, recolher-se em seu íntimo, esconder-se espiritualmente para se preservar e fugir aos sentidos, e conceder a si mesmo um lugar de silêncio e de repouso interior. É deste repouso interior que se canta: «Quando um silêncio profundo envolvia todas as coisas e a noite ia a meio do seu curso, então, a tua palavra omnipotente desceu do céu e do trono real e, como um implacável guerreiro, lançou-se para o meio da terra» (Sab. 18, 14-15): foi quando o Verbo eterno saiu do coração de seu Pai. É no meio do silêncio, precisamente no momento em que todas as coisas estão mergulhadas no mais profundo silêncio, quando o verdadeiro silêncio reina, que se escuta então, verdadeiramente, este Verbo. Pois se desejas que Deus fale, precisas silenciar; para que ele entre, todas as coisas devem sair.
Quando Nosso Senhor Jesus entrou no Egipto, todos os ídolos do país caíram em ruínas. Os teus próprios ídolos, é tudo aquilo que impede que se opere em ti este nascimento eterno, de maneira verdadeira e imediata, por melhor e mais santo que isto possa parecer. Nosso Senhor disse: «Eu vim trazer a espada» (Mt. 10,34) para cortar tudo o que se agarra ao homem. Pois aquilo que te é mais chegado, eis o teu inimigo: esta multiplicidade de imagens que em ti escondem o Verbo.”

Jean Tauler (1300-1361), dominicano
Sermão para a Festa de Natal

quarta-feira, abril 26, 2006

dias de Liberdade

No dia 25 de Abril recordou-se o dia em que da ditadura se passou à liberdade. Não tem sido um caminho fácil – o próprio contexto revolucionário de 74 proporcionou muitas colagens e aproveitamentos ideológicos - sabemo-lo, mas, de qualquer forma, tem valido a pena.

Por falar em mudanças e em transformações, e porque também é o dia em que celebramos o evangelista S. Marcos, dou comigo a meditar no poder verdadeiramente revolucionário que a presença de Deus pode realizar nas nossas vidas.
Leio as palavras do Cardeal Newman e deixo-me surpreender pela forma como ele evidencia e o poder que o Espírito tem na transformação da pessoa.
Uma verdadeira revolução, um caminho de Liberdade.

do Cardeal Newman:
“Assistimos em São Marcos a uma transformação verdadeiramente maravilhosa: tendo acompanhado Barnabé e Paulo durante a primeira viagem apostólica de ambos, diante do perigo, João Marcos abandona-os para regressar a Jerusalém (Act 13, 13). [.]
Depois disto, porém, foi colaborador de São Pedro (1P 5,13), tendo-se mostrado, não apenas um autêntico cristão, mas um servidor fiel e resoluto do Evangelho, sendo mesmo, segundo a tradição, o fundador da Igreja mais rigorosa, a Igreja de Alexandria. O instrumento desta mudança parece ter sido a influência de Pedro, que transformou em apóstolo o discípulo tímido e cobarde.
Através desta história, aprendemos uma lição: pela graça de Deus, o mais fraco pode receber a força. Portanto, não devemos confiar em nós mesmos; nunca devemos desprezar um irmão que dá provas de fraqueza, nem jamais desesperar quanto à sua fidelidade mas, pelo contrário, devemos ajudá-lo a seguir em frente. [.] A história de Moisés apresenta-nos o exemplo de um temperamento orgulhoso e violento, que o Espírito dominou, a ponto de fazer dele um homem de excepcional humildade (Nm 12, 3). A história de Marcos apresenta-nos um caso de mudança ainda mais rara: a passagem da timidez a uma segurança definitiva. Com efeito, se é difícil dominar paixões violentas, ainda é mais difícil superar a tendência para o temor e o desalento, essas pequenas cadeias que paralisam alguns. [.] Admiremos pois, em São Marcos, uma tão espantosa transformação: "pela fé, o fraco recebeu o dom da força" (Hb 11,34). Deste modo, Marcos dá testemunho dos dons mais maravilhosos do Espírito Santo, segundo a repartição dos últimos tempos: "Levantai as vossas mãos fatigadas e os vossos joelhos enfraquecidos" (Hb 12,12).

Cardeal John Henry Newman (1801-1890), sacerdote, fundador de comunidade religiosa, teólogo PPS vol. 2, n°16

sexta-feira, abril 21, 2006

Ressurreição, hoje.

A propósito desta Páscoa e da Ressureição do Senhor.
Foi fantástica a vigília em família, a minha mulher, a presença das crianças, os irmãos, enfim, dos pequenos milagres que das mortes se tornaram vida.
É também por isto que sei que Ele está vivo e no meio de nós.
Já agora, o Cardeal Newman dá uma mãozinha para entender esta coisa da ressurreição para os dias que correm.


Cardeal John Henry Newman (1801-1890), sacerdote, fundador de comunidade religiosa, teólogo PPS vol. 8, n°2
“.... Só lentamente nos apercebemos desta grande e sublime verdade: Cristo continua, de alguma maneira, a caminhar no meio de nós, e faz-nos sinal para o seguirmos com a sua própria mão, o seu olhar, a sua voz. Nós não compreendemos que este chamamento de Cristo tem lugar todos os dias, hoje como outrora. Temos tendência para nos convencermos de que ele se verificava no tempo dos apóstolos, mas não cremos que, hoje, se nos aplique, não procuramos detectá-lo a nosso respeito. Deixámos de ter olhos para ver o Mestre – somos muito diferentes do apóstolo amado, que reconheceu Cristo mesmo quando os outros discípulos O não reconheceram. E, contudo, era Ele que estava na margem; foi depois da ressurreição, quando lhes ordenou que lançassem a rede ao mar; foi então que o discípulo que Jesus amava disse a Pedro: “É o Senhor!”
O que pretendo dizer é que, de vez em quando, os homens que vivem uma vida de crentes se apercebem de verdades que ainda não tinham visto, ou para as quais nunca lhes tinham chamado a atenção. E, de repente, elas apresentam-se diante deles como um apelo irresistível. Ora, trata-se de verdades que nos obrigam, que assumem o valor de preceitos, e que exigem obediência. É desta maneira, ou ainda de outras, que Cristo hoje nos chama. Não há nada de miraculoso ou de extraordinário nesta forma de actuar. Ele age por intermédio das nossas faculdades naturais e por meio das próprias circunstâncias da vida.”

quarta-feira, março 08, 2006

"O sinal de Jonas"

No comentário a uma passagem do Evangelho de S Lucas feito pelo Cardeal Joseph Ratzinger, hoje Papa Bento XVI, num Retiro pregado no Vaticano em 1983 é expressa de uma forma central, um dos ponto essenciais do cristianismo, senão mesmo o ponto fundamental. A conversão, no sentido mais profundo e radical da palavra. No contexto do mundo de hoje vale a pena afirmar com coragem e lucidez que sem conversão tudo o resto é mais do mesmo, ou como dizia um amigo meu, ou há conversão ou há “cócegas” ao coração. Mesmo entre os cristãos que conheço, isto não é claro. Mas devia ser.


Lc 11,29-32.
Como as multidões afluíssem em massa, começou a dizer: «Esta geração é uma geração perversa; pede um sinal, mas não lhe será dado sinal algum, a não ser o de Jonas. Pois, assim como Jonas foi um sinal para os ninivitas, assim o será também o Filho do Homem para esta geração. A rainha do Sul há-de levantar-se, na altura do juízo, contra os homens desta geração e há-de condená-los, porque veio dos confins da terra para ouvir a sabedoria de Salomão; ora, aqui está quem é maior do que Salomão! Os ninivitas hão-de levantar-se, na altura do juízo, contra esta geração e hão-de condená-la, porque fizeram penitência ao ouvir a pregação de Jonas; ora, aqui está quem é maior do que Jonas.»


Cardeal Joseph Ratzinger [Papa Bento XVI] Retiro pregado no Vaticano em 1983
"Esta geração pede um sinal". Também nós esperamos a manifestação, o sinal do sucesso, tanto na história universal como na nossa vida pessoal. Por isso, perguntamos se o cristianismo transformou o mundo, se produziu esse sinal de pão e de segurança de que falava o diabo no deserto (Mt 4,3s). De acordo com a interpretação de Karl Marx, o cristianismo dispôs de tempo suficiente para estabelecer a prova dos seus princípios, para provar o seu sucesso, para demonstrar que criou o paraíso terrestre; para Marx, depois de todo este tempo, seria necessário apoiar-nos agora em princípios diferentes.
Esta argumentação não deixa de impressionar muitos cristãos que chegam a pensar que seria necessário, pelo menos, inventar um cristianismo muito diferente, um cristianismo que renunciasse ao luxo da interioridade, da vida espiritual. Mas é precisamente assim que eles impedem a verdadeira transformação do mundo, que se baseia num coração novo, num coração vigilante, um coração aberto à verdade e ao amor, um coração libertado e livre.
Na raiz deste pedido descarado de um sinal está o egoísmo, a impureza de um coração que só espera de Deus o sucesso pessoal e uma ajuda para afirmar o absoluto do eu. Esta forma de religiosidade é a recusa absoluta de conversão. Mas quantas vezes não dependemos nós mesmos do sinal do sucesso! Quantas vezes não reclamamos o sinal e recusamos a conversão!

quinta-feira, março 02, 2006

Para esta Quaresma, para toda a vida.

«Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, dia após dia, e siga-me. Pois, quem quiser salvar a sua vida há-de perdê-la; mas, quem perder a sua vida por minha causa há-de salvá-la. Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, perdendo-se ou condenando-se a si mesmo?

Lc 9,23-25.

terça-feira, fevereiro 14, 2006

Nem só de pão vive este homem.

O Evangelho de hoje vai direito ao meu coração. Para ajudar à espada da dois gumes da Palavra, a minha mulher mandou-ma em formato e-mail, como que a sublinhar a sua importância para a nossa vida. Dou comigo a deslumbrar-me pela imensidão do diálogo entre Jesus e os discípulos e, sem grande dificuldade, revejo-me no mesmo barco. Sim, como eles ainda sou um cego de estômago grande. Como é possível não ver que Ele tem estado presente em toda a minha vida? tenho de tomar mais cuidado com os fermentos deste mundo.


Mc 8,14-21.
"Os discípulos tinham-se esquecido de levar pães e só traziam um pão no barco. Jesus começou a avisá-los, dizendo: «Olhai: tomai cuidado com o fermento dos fariseus e com o fermento de Herodes.» E eles discorriam entre si: «Não temos pão.» Mas Ele, percebendo-o, disse: «Porque estais a discorrer que não tendes pão? Ainda não entendestes nem compreendestes? Tendes o vosso coração endurecido? Tendes olhos e não vedes, tendes ouvidos e não ouvis? E não vos lembrais de quantos cestos cheios de pedaços recolhestes, quando parti os cinco pães para aqueles cinco mil?» Responderam: «Doze.» «E quando parti os sete pães para os quatro mil, quantos cestos cheios de bocados recolhestes?» Responderam: «Sete.» Disse-lhes então: «Ainda não compreendeis?»

sexta-feira, fevereiro 03, 2006

Esclarecendo.

Nos dias que correm sabe sempre bem quando alguém fala claro.
Não conheço a senhora, não sou da associação, mas subscrevo estas palavras.
É já tempo de ir esclarecendo as cabeças e de abanar esta medíocre torpeza do vale-tudo.
Nos dias que correm vale a pena não ir na maré .


Heterossexualidade e casamento
por Alexandra Teté

1.Assistimos presentemente a uma campanha agressiva por parte do lobby gay, com a cumplicidade superficial e sentimental dos meios de comunicação social: primeiro, a indiscreta operação de marketing para promoção da love story entre os dois cowboys de Brokeback Mountain; depois a insensata e absurda resolução do Parlamento Europeu contra a homofobia, para converter em delito qualquer crítica relativa à homossexualidade. Agora, o caso de "Teresa e Lena", reportado exuberantemente nas páginas do PÚBLICO, destinado a "forçar os políticos a autorizarem o [seu] casamento". As pessoas de orientação homossexual merecem o respeito que é devido a quaisquer outras. Têm igual dignidade e os mesmos deveres e direitos. Para mais, trata-se frequentemente de pessoas que sofrem, com a dilaceração e ansiedade de uma sexualidade problemática, e por isso credoras de maior compreensão e afecto. Por outro lado, ninguém proíbe uniões voluntárias entre adultos responsáveis (com os direitos económicos e protecção social que forem convenientes). Coisa muito diferente, porém, é violentar e desfigurar o estatuto legal do casamento para que abranja uniões entre pessoas do mesmo sexo.

2. A heterossexualidade é uma nota essencial do casamento, que se funda na conjugabilidade homem-mulher e na fecundidade potencial dessa união. O casamento é uma instituição reconhecida pela sociedade como fundamental por ser o lugar natural da geração, formação da personalidade e educação das crianças. É a fonte primária do capital social. É por serem socialmente valiosos que o Estado regula e protege o casamento e a família (heterossexual monogâmica): a função do direito não é dar cobertura jurídica a todas as relações afectivas (sexuadas ou não) que possam dar-se, mas só àquelas que são socialmente relevantes. E só a relação homem-mulher está nos alicerces da sociedade. "Eu amo quem quiser!", dizem. É verdade. Mas o Estado não tem nada a ver com isso. De resto, qualquer pessoa pode casar, independentemente da sua orientação sexual. O Código Civil não proíbe o casamento dos homossexuais, mas sim o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Como disse Jospin, a este propósito, "a humanidade não se divide entre homossexuais e heterossexuais, mas entre homens e mulheres". Aliás, a lei estabelece outras restrições: exclui o casamento poligâmico, exige uma determinada idade, proíbe o casamento entre pessoas com laços de consanguinidade de certo grau, etc. Serão também discriminações inconstitucionais, uma vez que contrariam algumas orientações sexuais?

3. Tenho que confessar que considero a heterossexualidade algo maravilhoso: a polaridade masculino-feminina, a complementaridade psíquica e biológica na comunidade de vida, a criatividade interpessoal e a abertura à vida, que foram cantadas em todas as civilizações e registos, desde o Génesis à Arte de Amar. Pelo contrário, a homossexualidade parece-me (e estou bem acompanhada) uma contradição antropológica, moral e psicologicamente destrutiva. Mas respeito as opiniões opostas e não pretendo impor a ninguém as minhas convicções. Contudo, não devemos estar dispostos a aceitar que uma minoria de representatividade duvidosa (embora poderosa) - através da sua estratégia de vigilância, denúncia, censura, pressão e agora ameaça penal - imponha a toda sociedade as suas convicções, forçando uma concepção degradada de casamento que subverte o sentido dessa instituição.

Associação Mulheres em Acção

quinta-feira, fevereiro 02, 2006

O Deus das pequenas e grandes coisas...

e agora pergunto-me, medito-me.
procuro-Te.
um ponto, uma luz.
um milagre, um pouco de nada.
como posso eu rever-te cá dentro
e dar pela Tua passagem (trespassagem?) por mim?



" Tal foi sempre a maneira de Deus fazer as suas visitas...: o silêncio, o inesperado, a surpresa aos olhos do mundo, apesar das predições conhecidas de todos, cujo sentido a Igreja verdadeira apreende e espera o cumprimento... Não pode ser de outra forma. Os avisos de Deus são claros mas o mundo continua o seu curso; envolvidos pelas suas actividades, os homens não sabem discernir o sentido da história. Tomam grandes acontecimentos por factos sem importância e medem o valor das realidades segundo uma perspectiva apenas humana... O mundo permanece cego, mas a Providência oculta de Deus realiza-se dia após dia."
Cardeal John Henry Newman (1801-1890)

segunda-feira, janeiro 16, 2006

DESCOBRIR...

Tarde Te amei,
Beleza tão antiga e tão nova,
Tarde Te amei.
Eis que habitavas dentro de mim, e eu lá fora a procurar-Te!
Lançava-me desajeitadamente sobre as coisas belas da Tua criação.
Tu estavas comigo e eu não estava contigo!
Retinha-me longe de ti aquilo que não existiria se não existisse em Ti.
Porém chamaste-me e o teu grito rompeu a minha surdez;
brilhaste e o Teu esplendor afastou a minha cegueira;
exalaste o Teu perfume, eu respirei-o e suspiro por Ti.
Saboreei-te e tenho fome de Ti, tenho sede de Ti;
tocaste-me e ardi no desejo da Tua paz.
Quando estiver unido a Ti com todo o meu ser,
deixará de haver dor e fadiga para mim.
A minha vida, cheia de Ti, será então a verdadeira vida.
aqueles que enches de Ti, liberta-los.
Porque não estou ainda cheio de Ti,
sou ainda um peso para mim.
Senhor, tem piedade de mim!
As minhas tristezas más lutam contra as minhas alegrias boas;
sairei eu vitorioso deste combate?
Tem piedade de mim, Senhor!
Ai de mim, pobre ser que sou!
Aqui estão as minhas feridas, não as escondo de ti.
Tu és o médico e eu o enfermo.
Tu és misericórdia e eu miséria.



Santo Agostinho (354-430) , bispo de Hipona (África do Norte)
e doutor da Igreja
Confissões, X, 27