segunda-feira, janeiro 16, 2006

DESCOBRIR...

Tarde Te amei,
Beleza tão antiga e tão nova,
Tarde Te amei.
Eis que habitavas dentro de mim, e eu lá fora a procurar-Te!
Lançava-me desajeitadamente sobre as coisas belas da Tua criação.
Tu estavas comigo e eu não estava contigo!
Retinha-me longe de ti aquilo que não existiria se não existisse em Ti.
Porém chamaste-me e o teu grito rompeu a minha surdez;
brilhaste e o Teu esplendor afastou a minha cegueira;
exalaste o Teu perfume, eu respirei-o e suspiro por Ti.
Saboreei-te e tenho fome de Ti, tenho sede de Ti;
tocaste-me e ardi no desejo da Tua paz.
Quando estiver unido a Ti com todo o meu ser,
deixará de haver dor e fadiga para mim.
A minha vida, cheia de Ti, será então a verdadeira vida.
aqueles que enches de Ti, liberta-los.
Porque não estou ainda cheio de Ti,
sou ainda um peso para mim.
Senhor, tem piedade de mim!
As minhas tristezas más lutam contra as minhas alegrias boas;
sairei eu vitorioso deste combate?
Tem piedade de mim, Senhor!
Ai de mim, pobre ser que sou!
Aqui estão as minhas feridas, não as escondo de ti.
Tu és o médico e eu o enfermo.
Tu és misericórdia e eu miséria.



Santo Agostinho (354-430) , bispo de Hipona (África do Norte)
e doutor da Igreja
Confissões, X, 27