quarta-feira, outubro 31, 2007

O diálogo destes dias

Vê, ó Cristo, a minha angústia,
vê a minha pouca coragem,
vê como me faltam as forças,
vê também a minha pobreza,
vê a minha fraqueza
e tem piedade de mim, ó Verbo!
Brilha agora sobre mim,
como outrora,
e esclarece a minha alma,
ilumina os meus olhos para que te vejam,
ó luz do mundo (Jo 8,12),
tu que és a alegria,
a felicidade,
a vida eterna,
as delícias dos anjos,
tu que és o Reino dos céus
e o Paraíso,
a coroa dos justos,
o seu Juiz e o seu Rei.
Porque escondes o teu rosto?
Porque te afastas de mim,
tu,
que és o meu Deus e que nunca te queres afastar dos que te amam?
Porque foges de mim,
porque me queimas,
porque me feres e me esmagas?
Tu sabes que te amo e te busco com toda a minha alma.
Revela-te, como prometeste...
Abre-me de par em para sala do banquete,
meu Deus;
sim, não feches a portada tua luz,
ó meu Cristo!

«Será que imaginas,
ó filho dos homens,
que me podes forçar com as tuas palavras?
Que dizes tu, insensato?
Que eu escondo o meu rosto?
Será que desconfias, um pouco que seja,
que eu te ia fechar as portas e os batentes?
Será que suspeitas que alguma vez me afaste de ti?
Que dizes tu?
Que eu te inflamo, te queimo, te esmago?
Verdadeiramente, as tuas palavras não são justas
e justo também não é o teu pensamento.
Escuta antes as palavras que agora te vou dizer:
Eu era luz, mesmo antes de ter criado todas as coisas que tu vês.
Estou em toda a parte, estava em toda a parte,
e, como como fiz toda a criatura, estou em toda a parte e em tudo...
Considera os meus benefícios,
observa os meus desígnios,
aprende quais são os meus dons!
Manifestei-me ao mundo
e manifestei o meu Pai,
derramei em abundânciao meu santíssimo Espírito sobre todo o ser vivo, sem excepção.
Revelei o meu nome a todos os homens e disse-lhes,
pelas minhas obras,
que eu sou o criador,
que sou o autor do mundo.
Mostrei-o e mostro agora tudo o que era preciso fazer.»

S. Simeão, o Novo teólogo (c. 949 - 1022), monge ortodoxo Hino 53