sexta-feira, março 11, 2005

Quotidiano

Asfaltaram a estrada lá fora da cor negra das mãos que chegam.
Recepcionam-nos em filas coloridas no quotidiano de manhãs pré-triadas em senhas impacientes separados que foram os trigos e joios de todos os dias. As vidas que se acotovelam cá dentro e se achegam em montes incompreensíveis ao balcão das informações impacientes, são como vultos incógnitos tornados barreiras transponíveis, desviadas em com licenças. Impassível caminho decidido a tomar de assalto a turba negra de cores amareladas e carantonhas que chegam do leste. Olhos rasgados do oriente barato espreitam encostados aos barbudos sikhs envolvidos em turbantes islâmicos que aterrorizam as escadas. Os telefones que na cave tocam, são em linhas de socorro atendidas, lançam apelos doloridos e levam em resposta instruções multilingues. Instruir em subcave é tarefa subterrânea. Movo-me. Movo-me ligeiro e abalanço-me ao café da messe. - É um café senhor André? diz a balconista de dedos mindinhos. Finjo apreciar os panikes ao mesmo tempo que ensurdeço a vontade de dizer que "senhor André" esgota o desejo de mastigar os panadinhos de queijo. Faço má cara e oriento a indignação em direcção ao café. A senhora insiste na abordagem. Parece-me que é informação a mais para uma bica matinal. Fujo à conversa gastronómica e despacho uma tirada benigna.
Esforço-me por encontrar um sentido para a manhã e subo as escadas aliviado...