segunda-feira, março 21, 2005

A PAIXÃO...

Evangelho segundo S. Mateus 26,14-75.27,1-66.
Então um dos Doze, chamado Judas Iscariotes, foi ter com os sumos sacerdotes e disse-lhes: «Quanto me dareis, se eu vo-lo entregar?»
Eles garantiram-lhe trinta moedas de prata. E, a partir de então, Judas procurava uma oportunidade para entregar Jesus.
No primeiro dia da festa dos Ázimos, os discípulos foram ter com Jesus e perguntaram-lhe: «Onde queres que façamos os preparativos para comer a Páscoa?»
Ele respondeu: «Ide à cidade, a casa de um certo homem e dizei-lhe: O Mestre manda dizer: O meu tempo está próximo; é em tua casa que quero celebrar a Páscoa com os meus discípulos.» Os discípulos fizeram como Jesus lhes ordenara e prepararam a Páscoa. Ao cair da tarde, sentou-se à mesa com os Doze.
Enquanto comiam, disse: «Em verdade vos digo: Um de vós me há-de entregar.» Profundamente entristecidos, começaram a perguntar-lhe, cada um por sua vez:
«Porventura serei eu, Senhor?»
Ele respondeu: «O que mete comigo a mão no prato, esse me entregará. O Filho do Homem segue o seu caminho, como está escrito acerca dele; mas ai daquele por quem o Filho do Homem vai ser entregue. Seria melhor para esse homem não ter nascido!»
Judas, o traidor, tomou a palavra e perguntou: «Porventura serei eu, Mestre?»
«Tu o disseste» respondeu Jesus.
Enquanto comiam, Jesus tomou o pão e, depois de pronunciar a bênção, partiu-o e deu-o aos seus discípulos, dizendo: «Tomai, comei: Isto é o meu corpo.»
Em seguida, tomou um cálice, deu graças e entregou-lho, dizendo: «Bebei dele todos. Porque este é o meu sangue, sangue da Aliança, que vai ser derramado por muitos, para perdão dos pecados. Eu vos digo: Não beberei mais deste produto da videira, até ao dia em que beber o vinho novo convosco no Reino de meu Pai.»
Depois de cantarem os salmos, saíram para o Monte das Oliveiras. Jesus disse-lhes, então: «Nesta mesma noite, todos ficareis perturbados por minha causa, porque está escrito: Ferirei o pastor e as ovelhas do rebanho serão dispersas. Mas, depois da minha ressurreição, hei-de preceder-vos na Galileia.»
Tomando a palavra, Pedro respondeu-lhe: «Ainda que todos fiquem perturbados por tua causa, eu nunca me perturbarei!»
Jesus retorquiu-lhe: «Em verdade te digo: Esta mesma noite, antes de o galo cantar, vais negar-me três vezes.»
Pedro disse-lhe: «Mesmo que tenha de morrer contigo, não te negarei!»
E todos os discípulos afirmaram o mesmo.
Entretanto, Jesus com os seus discípulos chegou a um lugar chamado Getsémani e disse-lhes: «Sentai-vos aqui, enquanto Eu vou além orar.»
E, levando consigo Pedro e os dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-se e a angustiar-se. Disse-lhes, então: «A minha alma está numa tristeza de morte; ficai aqui e vigiai comigo.» E, adiantando-se um pouco mais, caiu com a face por terra, orando e dizendo: «Meu Pai, se é possível, afaste-se de mim este cálice. No entanto, não seja como Eu quero, mas como Tu queres.»
Voltando para junto dos discípulos, encontrou-os a dormir e disse a Pedro: «Nem sequer pudeste vigiar uma hora comigo! Vigiai e orai, para não cairdes em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é débil.»
Afastou-se, pela segunda vez, e foi orar, dizendo: «Meu Pai, se este cálice não pode passar sem que Eu o beba, faça-se a tua vontade!»
Depois voltou e encontrou-os novamente a dormir, pois os seus olhos estavam pesados. Deixou-os e foi orar de novo pela terceira vez, repetindo as mesmas palavras. Reunindo-se finalmente aos discípulos, disse-lhes: «Continuai a dormir e a descansar! Já se aproxima a hora, e o Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos pecadores. Levantai-vos, vamos! Já se aproxima aquele que me vai entregar.»
Ainda Ele falava, quando apareceu Judas, um dos Doze, e com ele muita gente, com espadas e varapaus, enviada pelos sumos sacerdotes e pelos anciãos do povo.
O traidor tinha-lhes dado este sinal: «Aquele que eu beijar, é esse mesmo: prendei-o.» Aproximou-se imediatamente de Jesus e disse: «Salve, Mestre!» E beijou-o.
Jesus respondeu-lhe: «Amigo, a que vieste?»
Então, avançaram, deitaram as mãos a Jesus e prenderam-no. Um dos que estavam com Jesus levou a mão à espada, desembainhou-a e feriu um servo do Sumo Sacerdote, cortando-lhe uma orelha.
Jesus disse-lhe: «Mete a tua espada na bainha, pois todos quantos se servirem da espada morrerão à espada. Julgas que não posso recorrer a meu Pai? Ele imediatamente me enviaria mais de doze legiões de anjos! Mas como se cumpririam as Escrituras, segundo as quais assim deve acontecer?»
Voltando-se, depois, para a multidão, disse: «Viestes prender-me com espadas e varapaus, como se eu fosse um ladrão! Todos os dias estava sentado no templo a ensinar, e não me prendestes. Mas tudo isto aconteceu, para que se cumprissem as Escrituras dos profetas.» Então, todos os discípulos o abandonaram e fugiram.
Os que tinham prendido Jesus conduziram-no à casa do Sumo Sacerdote Caifás, onde os doutores da Lei e os anciãos do povo se tinham reunido. Pedro seguiu-o de longe até ao palácio do Sumo Sacerdote. Aproximando-se, entrou e sentou-se entre os servos, para ver o desfecho de tudo aquilo. Os sumos sacerdotes e todo o Conselho procuravam um depoimento falso contra Jesus, a fim de o condenarem à morte. Mas não o encontraram, embora se tivessem apresentado muitas testemunhas falsas. Apresentaram-se finalmente duas, que declararam: «Este homem disse: 'Posso destruir o templo de Deus e reedificá-lo em três dias.’»
O Sumo Sacerdote ergueu-se, então, e disse-lhe: «Não respondes nada? Que dizes aos que depõem contra ti?»
Mas Jesus continuava calado. O Sumo Sacerdote disse-lhe: «Intimo-te, pelo Deus vivo, que nos digas se és o Messias, o Filho de Deus.»
Jesus respondeu-lhe: «Tu o disseste. E Eu digo-vos: Vereis um dia o Filho do Homem sentado à direita do Todo-Poderoso e vindo sobre as nuvens do céu.»
Então, o Sumo Sacerdote rasgou as vestes, dizendo: «Blasfemou! Que necessidade temos, ainda, de testemunhas? Acabais de ouvir a blasfémia. Que vos parece?»
Eles responderam: «É réu de morte.» Depois cuspiam-lhe no rosto e batiam-lhe. Outros esbofeteavam-no, dizendo: «Profetiza, Messias: quem foi que te bateu?»
Entretanto, Pedro estava sentado no pátio. Uma criada aproximou-se dele e disse-lhe: «Tu também estavas com Jesus, o Galileu.»
Mas ele negou diante de todos, dizendo: «Não sei o que dizes.»
Dirigindo-se para a porta, outra criada viu-o e disse aos que ali estavam: «Este também estava com Jesus, o Nazareno.»
Ele negou de novo com juramento: «Não conheço esse homem.»
Um momento depois, aproximaram-se os que ali estavam e disseram a Pedro: «Com certeza tu és dos seus, pois até a tua maneira de falar te denuncia.»
Começou, então, a dizer imprecações e a jurar: «Não conheço esse homem!»
No mesmo instante, o galo cantou.
E Pedro lembrou-se das palavras de Jesus: «Antes de o galo cantar, me negarás três vezes.» E, saindo para fora, chorou amargamente.
De manhã cedo, todos os sumos sacerdotes e anciãos do povo se reuniram em conselho contra Jesus, para o matarem. E, manietando-o, levaram-no ao governador Pilatos.
Então Judas, que o entregara, vendo que Ele tinha sido condenado, foi tocado pelo remorso e devolveu as trinta moedas de prata aos sumos sacerdotes e aos anciãos, dizendo: «Pequei, entregando sangue inocente.»
Eles replicaram: «Que nos importa? Isso é lá contigo.»
Atirando as moedas para o santuário, ele saiu e foi enforcar-se.
Os sumos sacerdotes, apanhando as moedas, disseram: «Não é lícito lançá-las no tesouro, pois são preço de sangue.» Depois de terem deliberado, compraram com elas o «Campo do Oleiro», para servir de cemitério aos estrangeiros. Por tal razão, aquele campo é chamado, até ao dia de hoje, «Campo de Sangue.»
Deste modo, cumpriu-se o que fora dito pelo profeta Jeremias: Tomaram as trinta moedas de prata, preço em que foi avaliado aquele que os filhos de Israel avaliaram, e deram-nas pelo Campo do Oleiro, como o Senhor havia ordenado.»
Jesus foi conduzido à presença do governador, que lhe perguntou: «Tu és o Rei dos Judeus?» Jesus respondeu: «Tu o dizes.» Mas, ao ser acusado pelos sumos sacerdotes e anciãos, nada respondeu. Pilatos disse-lhe, então: «Não ouves tudo o que dizem contra ti?»
Mas Ele não respondeu coisa alguma, de modo que o governador estava muito admirado. Ora, por ocasião da festa, o governador costumava conceder a liberdade a um prisioneiro, à escolha do povo. Nessa altura havia um preso afamado, chamado Barrabás.
Pilatos perguntou ao povo, que se encontrava reunido: «Qual quereis que vos solte: Barrabás ou Jesus, chamado Cristo?»
Ele sabia que o tinham entregado por inveja. Enquanto estava sentado no tribunal, a mulher mandou-lhe dizer: «Não te intrometas no caso desse justo, porque hoje muito sofri em sonhos por causa dele.»Mas os sumos sacerdotes e os anciãos persuadiram a multidão a pedir Barrabás e exigir a morte de Jesus.
Tomando a palavra, o governador inquiriu: «Qual dos dois quereis que vos solte?»
Eles responderam: «Barrabás!»
Pilatos disse-lhes: «Que hei de fazer, então, de Jesus chamado Cristo?»
Todos responderam: «Seja crucificado!»
Pilatos insistiu: «Que mal fez Ele?»
Mas eles cada vez gritavam mais: «Seja crucificado!»
Pilatos, vendo que nada conseguia e que o tumulto aumentava cada vez mais, mandou vir água e lavou as mãos na presença da multidão, dizendo: «Estou inocente deste sangue. Isso é convosco.»
E todo o povo respondeu: «Que o seu sangue caia sobre nós e sobre os nossos filhos!»
Então, soltou-lhes Barrabás. Quanto a Jesus, depois de o mandar flagelar, entregou-o para ser crucificado.
Os soldados do governador conduziram Jesus para o pretório e reuniram toda a coorte à volta dele. Despiram-no e envolveram-no com um manto escarlate. Tecendo uma coroa de espinhos, puseram-lha na cabeça, e uma cana na mão direita. Dobrando o joelho diante dele, escarneciam-no, dizendo: «Salve! Rei dos Judeus!» E, cuspindo-lhe no rosto, agarravam na cana e batiam-lhe na cabeça. Depois de o terem escarnecido, tiraram-lhe o manto, vestiram-lhe as suas roupas e levaram-no para ser crucificado. À saída, encontraram um homem de Cirene, chamado Simão, e obrigaram-no a levar a cruz de Jesus. Quando chegaram a um lugar chamado Gólgota, isto é, «Lugar do Crânio», deram-lhe a beber vinho misturado com fel; mas Ele, provando-o, não quis beber.
Depois de o terem crucificado, repartiram entre si as suas vestes, tirando-as à sorte. Ficaram ali sentados a guardá-lo. Por cima da sua cabeça, colocaram um escrito, indicando a causa da sua condenação: «Este é Jesus, o rei dos Judeus.»
Com Ele, foram crucificados dois salteadores: um à direita e outro à esquerda. Os que passavam injuriavam-no, meneando a cabeça e dizendo: «Tu, que destruías o templo e o reedificavas em três dias, salva-te a ti mesmo! Se és Filho de Deus, desce da cruz!»
Os sumos sacerdotes com os doutores da Lei e os anciãos também zombavam dele, dizendo: «Salvou os outros e não pode salvar-se a si mesmo! Se é o rei de Israel, desça da cruz, e acreditaremos nele. Confiou em Deus; Ele que o livre agora, se o ama, pois disse: 'Eu sou Filho de Deus!’» Até os salteadores, que estavam com Ele crucificados, o insultavam.
Desde o meio-dia até às três horas da tarde, as trevas envolveram toda a terra.
Cerca das três horas da tarde, Jesus clamou com voz forte: Eli, Eli, lemá sabactháni?, isto é: Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?
Alguns dos que ali se encontravam, ao ouvi-lo, disseram: «Está a chamar por Elias.» Um deles correu imediatamente, pegou numa esponja, embebeu a em vinagre e, fixando-a numa cana, dava-lhe de beber. Mas os outros disseram: «Deixa; vejamos se Elias vem salvá-lo.» E Jesus, clamando outra vez com voz forte, expirou. Então, o véu do templo rasgou-se em dois, de alto a baixo. A terra tremeu e as rochas fenderam-se. Abriram-se os túmulos e muitos corpos de santos, que estavam mortos, ressuscitaram; e, saindo dos túmulos depois da ressurreição de Jesus, entraram na cidade santa e apareceram a muitos. O centurião e os que com ele guardavam Jesus, vendo o tremor de terra e o que estava a acontecer, ficaram apavorados e disseram: «Este era verdadeiramente o Filho de Deus!»
Estavam ali, a observar de longe, muitas mulheres que tinham seguido Jesus desde a Galileia e o serviram. Entre elas, estavam Maria de Magdala, Maria, mãe de Tiago e de José, e a mãe dos filhos de Zebedeu.
Ao cair da tarde, veio um homem rico de Arimateia, chamado José, que também se tornara discípulo de Jesus. Foi ter com Pilatos e pediu-lhe o corpo de Jesus. Pilatos ordenou que lho entregassem. José tomou o corpo, envolveu-o num lençol limpo e depositou-o num túmulo novo, que tinha mandado talhar na rocha. Depois, rolou uma grande pedra contra a porta do túmulo e retirou-se. Maria de Magdala e a outra Maria estavam ali sentadas, em frente do sepulcro. No dia seguinte, que era o dia a seguir ao da Preparação, os sumos sacerdotes e os fariseus reuniram-se com Pilatos e disseram-lhe: «Senhor, lembrámo-nos de que aquele impostor disse, ainda em vida: 'Três dias depois hei-de ressuscitar.’ Por isso, ordena que o sepulcro seja guardado até ao terceiro dia, não venham os discípulos roubá-lo e dizer ao povo: 'Ressuscitou dos mortos.’ E seria a última impostura pior do que a primeira.» Pilatos respondeu-lhes: «Tendes guardas. Ide e guardai o como entenderdes.» E eles foram pôr o sepulcro em segurança, selando a pedra e confiando-o à vigilância dos guardas.

quarta-feira, março 16, 2005

A verdade que liberta

Num tempo de grandes confusões e de tremenda desinformação, de avidez de imediato e de uma curiosidade pelas "coisas do além", quantas vezes procurada de uma forma superficial, descubro que continuamos todos numa busca movida pelo apelo que Deus colocou no coração dos Homens. Esta procura sentida e exteriorizada de muitas formas, é também o aspecto visível de um encontro marcado com a Verdade, que não é o mesmo que dizer com a Morte.
Este excerto sobre a "verdade que liberta", retirado da mensagem de João Paulo II, deixo-o e reservo-o como orientação, para aquelas conversas que tenho com os meus amigos e amigas algumas vezes em torno de temas "bicudos", que normalmente acabam em incompreensões e surdez mútua.
Sei que todos procuramos a Verdade e que todos aspiramos à Liberdade, e que na diversidade das culturas, dos Homens e dos tempos que correm, essa busca assume muitas formas de ser, estar e sentir. Alguns dos meus amigos remetem sempre essa busca para a esfera da sua individualidade, como se caminhassem sozinhos. Tenho entendido, que o sentido da mensagem de Jesus não me deixa a palmilhar a vida na solidão.
Nesta minha procura pela Verdade tenho entendido que a certeza do Amor incondicional de Deus é a certeza primeira de que o Caminho da Verdade e da Vida, é feito sempre em comunhão com Deus e num sentido de intimidade com esse Amor que é antes de mais um Amor pelos Homens, uma história de Amor por mim. A história de Deus com os Homens é uma história de Amor.
Amor, Verdade e Liberdade. O primeiro gesto foi Dele. O nosso anseio de procura está "plantado" nos nossos corações, por isso buscamos a Verdade.
..."Jesus Cristo vai ao encontro dos homens de todas as épocas, incluindo a nossa, com as mesmas palavras:
“Vós conhecereis a verdade e a verdade tornar-vos-á livres”
Estas palavras contêm uma exigência fundamental e ao mesmo tempo um aviso:
a exigência de honestidade face a face com a verdade como condição de uma autêntica liberdade; e também o aviso de evitar toda a liberdade aparente, toda a liberdade superficial e unilateral, toda a liberdade que não vai ao fundo da verdade sobre o homem e sobre o mundo.Ainda hoje, após dois mil anos, Cristo nos aparece como aquele que liberta o homem daquilo que limita, diminui e por assim dizer destrói esta liberdade suas raízes, no espírito do homem, no seu coração, na sua consciência.
Que prova admirável de tudo isto deram e não cessam de dar aqueles que, por Cristo e em Cristo, chegaram à verdadeira liberdade e deram testemunho disso, mesmo em condições de constrangimento exterior!
E assim que o próprio Jesus Cristo compareceu como prisioneiro no tribunal de Pilatos, não respondeu ele:
“Para isso nasci e para isso vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade” (Jo 18,37)?
Por estas palavras pronunciadas diante do juiz no momento decisivo, ele confirmou por assim dizer uma vez mais o que já tinha dito:
“Vós conhecereis a verdade e a verdade tornar-vos-á livres”.
Ao longo dos séculos e das gerações, a começar pelo tempo dos apóstolos, não foi o próprio Jesus Cristo, que se comparou tanta vez aos homens condenados por causa da verdade? Será que ele cessará de ser sempre o porta-palavra e o advogado do homem que vive “em espírito e em verdade” (Jo 4,23)? "
João Paulo II, in Redemptor Hominis

terça-feira, março 15, 2005

Chapéu (de chuva)

A manhã trazia, sol mas a mãe disse que ia chover.
Recomendou-me chapéu de chuva prevendo horas diluvianas.
Não choveu. Nem sequer ameaçou.
A previsão da mãe apoiada no boletim meteorológico matinal é falível.
Num país que não conhece a chuva há quase um ano, eu era o único com guarda-chuva no comboio. Toda a gente reparou, eu olhei pela janela e sorri.
Havia uma certa ironia no sorriso.
Mãe há só uma. Chapéus ( de chuva) há muitos.

sexta-feira, março 11, 2005

Vinte e Nove Conselhos Para escrever Bem

1 – Deve evitar ao máx. A utilizºde abrev., etc.
2 – É desnecessário empregar um estilo de escrita demasiadamente rebuscado. Tal prática advém de esmero excessivo que raia o exibicionismo narcisistíco.
3 – Anule aliterações altamente abusivas.
4 – não esqueça as maiúsculas no início das frases.
5 – Evite os lugares-comuns como “o diabo foge da cruz”.
6 – O uso de parentesis (mesmo quando relevante) é desnecessário.
7 – Realize que os estrangeirismos estão out; palavras de origem portuguesa estão in.
8 – Evite o emprego de gíria, mesmo que pareça nice, tá fixe?
9 – Palavras de baixo calão podem transformar o seu texto numa grande merda.
10 – Nunca generalize: generalizar é um erro em todas as situações.
11 – Evite repetir a mesma palavra, pois essa palavra vai ficar uma palavra repetitiva. A repetição da palavra vai fazer com que a palavra repetida desqualifique o texto onde a palavra se encontra repetida.
12 – Não abuse das citações. Como costuma dizer um amigo meu: «Quem cita os outros não tem ideias próprias».
13 – Frases incompletas podem causar
14 – Não seja redundante; não é preciso dizer a mesma coisa de formas diferentes, isto é, basta mencionar cada argumento uma só vez ou, por outras palavras, não repita a mesma ideia várias vezes.
15 – Seja mais ou menos especifico.
16 – Frases com apenas uma palavra? Livra!
17 – A voz passiva deve ser evitada.
18 – Utilize a pontuação correctamente o ponto e a virgula especialmente será que já ninguém sabe usar o ponto de interrogação
19 – Quem precisa de perguntas retóricas?
20 – Conforme recomenda a A.G.O.P., nunca use siglas desconhecidas.
21 – Exagerar é cem milhões de vezes pior que a moderação.
22 – Evite as mesóclises. Eu evitá-las-ei!
23 – Analogias na escrita são tão uteis como chifres numa galinha.
24 – Não abuse das exclamações! Nunca! O seu texto fica horrivel!!!
25 – Evite frases exageradamente longas, pois estas dificultam a compreensão da ideia nelas contida e, por conterem mais do que uma ideia central, o que nem sempre torna o seu conteúdo acessível, forçam desta forma o pobre leitor a separá-las nos seus diversos componentes, de maneira a torná-las compreensiveis, o que não deveria ser, afinal de contas, parte do processo da leitura, hábito que devemos estimular através do uso de frases mais curtas.
26 – Cuidado com a hortografia, para não estrupar a língoa portuguêza.
27 – Seja incisivo e coerente, ou não.
28 – Não fique escrevendo no gerúndio. Você vai deixando o seu texto pobre – causando ambiguidade – e esquisito, ficando com a sensação de que as coisas ainda estão acontecendo.
29 – Outra barbaridade que você deve evitar é usar muitas expressões que acabem por denunciar a região onde mora, carago!

Quotidiano

Asfaltaram a estrada lá fora da cor negra das mãos que chegam.
Recepcionam-nos em filas coloridas no quotidiano de manhãs pré-triadas em senhas impacientes separados que foram os trigos e joios de todos os dias. As vidas que se acotovelam cá dentro e se achegam em montes incompreensíveis ao balcão das informações impacientes, são como vultos incógnitos tornados barreiras transponíveis, desviadas em com licenças. Impassível caminho decidido a tomar de assalto a turba negra de cores amareladas e carantonhas que chegam do leste. Olhos rasgados do oriente barato espreitam encostados aos barbudos sikhs envolvidos em turbantes islâmicos que aterrorizam as escadas. Os telefones que na cave tocam, são em linhas de socorro atendidas, lançam apelos doloridos e levam em resposta instruções multilingues. Instruir em subcave é tarefa subterrânea. Movo-me. Movo-me ligeiro e abalanço-me ao café da messe. - É um café senhor André? diz a balconista de dedos mindinhos. Finjo apreciar os panikes ao mesmo tempo que ensurdeço a vontade de dizer que "senhor André" esgota o desejo de mastigar os panadinhos de queijo. Faço má cara e oriento a indignação em direcção ao café. A senhora insiste na abordagem. Parece-me que é informação a mais para uma bica matinal. Fujo à conversa gastronómica e despacho uma tirada benigna.
Esforço-me por encontrar um sentido para a manhã e subo as escadas aliviado...

quarta-feira, março 09, 2005

Vida e Morte

Porque me deixas perplexo e deslumbrado.
porque tens sempre palavras de vida eterna.
porque é em ti, Jesus que eu acredito.
O Senhor da vida e da morte,
porque vives na vontade do Pai.
É neste mistério que me comprazo.
"não te assombres com isto" dizes-me...
És Tu que me queres para a vida.
A mim resta-me crer e fazer a Tua vontade.
É Cristo que combate por mim.
Porque me fico tantas vezes pela cegueira dos egoísmos e pelo pânico da morte?
Porque me deixo invadir pela angústia e esmoreço?
No almoço com o Tom começou uma páscoa.
-Acorda para a vida, porque já não estás na morte!, disse ele.
eu pestanejei e timidamente caminhei no meu desconforto. custa tanto amar.
é da morte que se vai para a vida.
Lá fora o mundo pensa ao contrário.
Graças te dou senhor!


do Evangelho de S. João 5,17-30.

Naquela altura Jesus replicou-lhes: «O meu Pai continua a realizar obras até agora, e Eu também continuo!» Perante isto, mais vontade tinham os judeus de o matar, pois não só anulava o Sábado, mas até chamava a Deus seu próprio Pai, fazendo-se assim igual a Deus. Jesus tomou, pois, a palavra e começou a dizer-lhes: «Em verdade, em verdade vos digo: o Filho, por si mesmo, não pode fazer nada, senão o que vir fazer ao Pai, pois aquilo que este faz também o faz igualmente o Filho. De facto, o Pai ama o Filho e mostra-lhe tudo o que Ele mesmo faz; e há-de mostrar-lhe obras maiores do que estas, de modo que ficareis assombrados. Pois, assim como o Pai ressuscita os mortos e os faz viver, também o Filho faz viver aqueles que quer. O Pai, aliás, não julga ninguém, mas entregou ao Filho todo o julgamento, para que todos honrem o Filho como honram o Pai. Quem não honra o Filho não honra o Pai que o enviou. Em verdade, em verdade vos digo: quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna e não é sujeito a julgamento, mas passou da morte para a vida. Em verdade, em verdade vos digo: chega a hora e é já em que os mortos hão-de ouvir a voz do Filho de Deus, e os que a ouvirem viverão, pois, assim como o Pai tem a vida em si mesmo, também deu ao Filho o poder de ter a vida em si mesmo; e deu-lhe o poder de fazer o julgamento, porque Ele é Filho do Homem. Não vos assombreis com isto: é chegada a hora em que todos os que estão nos túmulos hão-de ouvir a sua voz, e sairão: os que tiverem praticado o bem, para uma ressurreição de vida; e os que tiverem praticado o mal, para uma ressurreição de condenação. Por mim mesmo, Eu não posso fazer nada: conforme ouço, assim é que julgo; e o meu julgamento é justo, porque não busco a minha vontade, mas a daquele que me enviou.»

terça-feira, março 08, 2005

dia da Mulher

É hoje. O dia da mulher. obrigado a todas. e às especiais mais ainda.
À mãe, à filha e à mulher amada. Mas antes de mais a Maria mãe de Deus, a nova Eva.

segunda-feira, março 07, 2005

agora a sério...

Segunda. de volta sem maioria. a ver quanto durará a nova fase.
ânimo e coragem!

resistir

Quaresma... é preciso renascer. mais uma vez.