quinta-feira, maio 13, 2004

Blogeando por aí, dou de caras com a "terra da alegria" (espero que o meu amigo Miguel me ajude a linkar isto como deve ser). Num post do José do "Guia dos perplexos" vi este texto que não posso deixar de concordar e do qual retiro este excerto que me parece muito elucidativo. Dá que pensar... Na verdade penso até que (sem qualquer alarmismo, mas com muita esperança) estes tempos em que vivemos são muito semelhantes aos das primitivas comunidades cristãs.

"...E a minha opinião é a de que nestes últimos 30 anos, com uma suma habilidade, resultante não só das qualidades da hierarquia como também duma experiência acumulada duas vezes milenar, a Igreja Católica portuguesa concentrou a sua melhor atenção em duas entidades:
- o Estado, para melhor a ele se acomodar e evitar repetições de desvarios passados e também, seguramente, para o levar a não descurar a vertente social e sociológica de que se tornou paladina tal como para evitar nele desvios secularizantes ou anti-doutrinais excessivamente óbvios e formais.
- a base sociológica de crentes pré-existente na altura do 25 de Abril, e por cujas necessidades de assistência espiritual e ritual a Igreja tem velado com eficiência satisfatória, mau grado as óbvias dificuldades de recrutamento de novos sacerdotes.
Ora, a minha ideia é que por muito se ter focado nestas duas vertentes, a Igreja, passou ao lado dum fenómeno de grande magnitude cujas consequências estarão ainda para vir, mas que irão alterar completamente a relação da Igreja com o Estado e o posicionamento dos crentes católicos no ambiente sociológico português. Eu não digo que a Igreja não detectou o fenómeno. Detectou-o com certeza, mas o facto é que concentrou os recursos da sua inteligência colectiva na observação, assistência e “acompanhamento” das duas entidades atrás referidas.
O fenómeno de que estou a falar é a drástica evolução, não política, não económica, mas sobretudo sociológica e cultural ocorrida nestes últimos 30 anos, que levou por exemplo a uma profunda descatolicização e crescente agnosticização das novas gerações, o que começa já a ter consequências visíveis. Por ter estado tão atenta à potencial secularização do Estado, a Igreja viu acontecer, com protesto seu mas sem acção consequente, uma profunda secularização do tecido social português. Vemos um Estado ainda reverente (daí a cadeira) mas uma população indiferente. A tal ponto que já hoje e a partir de hoje, ser Igreja e ser católico nesta sociedade portuguesa é e será algo de radicalmente diferente do que foi no passado.
E a ideia que tenho é que muitos católicos leigos já sentem isto diariamente mas a Igreja, essa, enquanto instituição, não estou seguro que tenha percebido plenamente a nossa nova condição minoritária.

José (GUIA DOS PERPLEXOS) in terradaalegria.blogspot.com