sexta-feira, novembro 11, 2005

Das Ilusões do efémero à revelação da realidade.

Evangelho segundo S. Lucas 17,26-37.

Como sucedeu nos dias de Noé, assim sucederá também nos dias do Filho do Homem: comiam, bebiam, os homens casavam-se e as mulheres eram dadas em casamento, até ao dia em que Noé entrou na Arca e veio o dilúvio, que os fez perecer a todos. O mesmo sucedeu nos dias de Lot: comiam, bebiam, compravam, vendiam, plantavam, construíam; mas, no dia em que Lot saiu de Sodoma, Deus fez cair do céu uma chuva de fogo e enxofre, que os matou a todos. Assim será no dia em que o Filho do Homem se revelar. Nesse dia, quem estiver no terraço e tiver as suas coisas em casa não desça para as tirar; e, do mesmo modo, quem estiver no campo não volte atrás. Lembrai-vos da mulher de Lot. Quem procurar salvar a vida, há-de perdê-la; e quem a perder, há-de conservá-la. Digo-vos que, nessa noite, estarão dois numa cama: um será tomado e o outro será deixado. Duas mulheres estarão juntas a moer: uma será tomada e a outra será deixada. Dois homens estarão no campo: um será tomado e o outro será deixado.» Tomando a palavra, os discípulos disseram-lhe: «Senhor, onde sucederá isso?» Respondeu-lhes: «Onde estiver o corpo, lá se juntarão também os abutres.»

São Gregório de Nissa (cerca de 335-395), monge e bispo Homilia 11 sobre o Cântico dos Cânticos

«Comiam, bebiam, compravam, vendiam»O Senhor fez grandes recomendações aos seus discípulos para que o seu espírito sacudisse como se fosse pó tudo o que é terrestre na natureza e se elevasse assim ao anseio pelas realidades sobrenaturais; de acordo com uma destas recomendações, aqueles que se viram para a vida do alto devem ser mais fortes do que o sono e manter sempre o seu espírito vigilante… Falo daquele adormecimento suscitado nos quês estão mergulhados na mentira da vida por esses sonhos ilusórios que são as honras, as riquezas, o poder, a fascinação dos prazeres, a ambição, a sede do gozo, a vaidade e tudo o que a imaginação leva os homens superficiais a procurar insensatamente. Todas essas coisas se esgotam com a natureza efémera do tempo; são do domínio do parecer…; mal pareceu que existiam, logo desaparecem à maneira das ondas do mar…É para que o nosso espírito seja liberto dessas ilusões que o Verbo nos convida a sacudir dos olhos das nossas almas esse sono profundo, a fim de que não deslizemos para longe das realidades verdadeiras, ligando-nos ao que não tem consistência. É por isso que nos propõe a vigilância, dizendo-nos: “Tende os rins cingidos e as lâmpadas acesas” (Lc 12.35). Porque a luz, ao brilhar diante dos olhos, expulsa o sono e os rins apertados com o cinto impedem o corpo de a ele sucumbir… Aquele que está cingido com a temperança vive na luz de uma consciência pura; a confiança filial ilumina a sua vida como uma lâmpada… Se vivermos assim, entraremos numa vida semelhante à dos anjos.