segunda-feira, maio 15, 2006

Do Amor (do Pai e do Filho)

Do Amor constante e recíproco do Pai e do Filho "resulta" o Espírito Santo.
O Filho na sua volta para o Pai (de onde procede) deixa-nos, ou melhor trespassa-nos nessa entrega, nessa relação de Amor e Intimidade.
Na homília de Domingo o pároco ilucidou-nos. No cristianismo não se trata de engrandecimento de egos. Num tempo de ego-cêntricos, a religiosidade também não está a salvo. Uma das armadilhas na caminhada é pensar que se pode ser santo sozinho, ou pior, por sua conta. O golpe foi certeiro. A nós cabe-nos participar nesta relação de amor indo ao encontro do outro, dando testemunho daquele que nos amou.
Amar é sair de si, ir ao encontro para se poder "Ser" verdadeiramente.
Foi assim que Ele fez connosco. Saiu de Si, deu-se-nos na Cruz, e deixou-nos o Espírito que nos une ao Pai. Queremos melhor?


A respeito do Espírito Santo diz-nos o nosso Papa Bento XVI:

“Ao invés das palavras "Pai" e "Filho", o nome do "Espírito Santo", a terceira pessoa divina, não é a expressão de uma especificidade; pelo contrário, ele designa o que é comum a Deus. Ora é precisamente aí que aparece o que é "próprio" da terceira pessoa: é "o que existe em comum", a unidade do Pai e do Filho, a Unidade em pessoa. O Pai e o Filho são um na medida em que vão para além de si mesmos; são um nesta terceira pessoa, na fecundidade do dom. Estas afirmações nunca poderão ser mais do que meras aproximações; só pelos seus efeitos podemos reconhecer o Espírito. Por consequência, a Escritura nunca descreve o Espírito Santo em si; fala apenas da forma como ele vem até ao homem e como se diferencia dos outros espíritos...
Judas Tadeu pergunta: "Senhor, como é possível que te queiras manifestar a nós e não ao mundo?" A resposta de Jesus parece ignorar a pergunta: "Se alguém me amar, guardará a minha palavra e nós viremos a ele e faremos nele a nossa morada". Na realidade, essa é a resposta exacta à pergunta do discípulo e à nossa própria pergunta sobre o Espírito. Não se pode expor o Espírito de Deus como se fosse uma mercadoria. Só o pode ver aquele que o tem em si. Ver e vir, ver e ficar, estão juntos e são indissociáveis. O Espírito Santo permanece na palavra de Jesus e essa palavra não se obtém com discursos, mas com a constância, com a vida.


Cardeal Joseph Ratzinger [Papa Bento XVI] in “ O Deus de Jesus Cristo”